Confira o review sem spoilers do colaborador João Camilo do filme da DC com as aventuras do adolescente Billy Batson e sua super família
Há uma frase atribuída a Oscar Wilde, (como qualquer frase atribuída a Oscar Wilde, deve ter sido escrita por outra pessoa) que diz: apenas crianças se esforçam em provar que são adultos. Desde os anos 80, os super-heróis têm se esforçado em provar que são adultos. Watchmen, de Alan Moore, deu alguma munição para esse argumento, mas muitos fãs se esquecem de que a obra é uma crítica ao universo dos super-heróis e não uma tentativa de legitimá-los. Isso foi transposto para os universos cinematográficos.

Resolver problemas usando colantes coloridos e voando é o produto de uma imaginação infantil e a linguagem dos super-heróis expressa isso. Se analisarmos, a maior parte dos filmes dentro deste gênero lidam com temáticas juvenis: busca da identidade e lugar no mundo e amadurecimento a partir da solução de conflitos com os pais. Usar tons sombrios, falar palavrões, mostrar violência, explorar a sexualidade, por mais que sejam elementos que alterem a classificação etária, não modificam a representação psicológica destes personagens.
São raras as variações de abordagem e isso promove uma infantilização na audiência. Cria uma justificativa para a imaturidade, porque ela tem roupagem adulta. Por isso, o apelo à nostalgia em tantas dessas produções: é uma forma de promover o conforto do adulto com apelos para a época em que era ainda jovem.

O primeiro longa-metragem Shazam! tem todos os méritos de evitar esse conforto ao assumir o espírito juvenil. Com isso, dá credibilidade para uma história que não precisa mostrar o personagem principal sendo um narcisista, que ao final, se torna mais poderoso para derrotar um vilão. Billy Batson compartilha o seu poder com a família e o maior fã para triunfar ao final do filme. A produção inclusive explicita que não era importante encontrar a mãe verdadeira do garoto.
A sequência Shazam! A Fúria dos Deuses retorna tentando repetir esses valores. A fórmula da história da origem não pode ser usada e com isso a narrativa é sobre o confronto contra divindades esquecidas e ultrapassadas da Grécia. As filhas de Atlas (Hespera, Anthea e Calypso) querem reaver os poderes dos deuses, os mesmos usados para dar os poderes para Billy e os irmãos. No primeiro filme, Dr. Silvana acreditava ter direito aos poderes. Neste, as três divindades têm efetivamente esse direito. Querem o legado ao qual têm direito.

Não espere uma fidelidade à mitologia grega (que seria absurda): as histórias contadas não serão encontradas em Homero ou Hesíodo e os monstros parecem ter sido retirados das páginas do Monster Manual do Dungeons & Dragons. O que vale é criar um conflito simples, nem sempre coerente, para que os seis heróis, devidamente imaturos, enfrentem o sisudo passado grego.
No primeiro filme, eles exploram a relação entre Billy e Freddy Freeman, o maior fã dos heróis, e o uso da internet. Neste, grande parte dessa interação se perde, os dois estão quase sempre separados em cena, mas Jack Dylan Grazer volta a entregar alguns dos momentos mais interessantes do filme, inclusive quando diz , ao se resignar ao bullying que sofre na escola, que ser amigo de um super herói não faz ninguém ser especial. Vale dizer, ser o maior fã do Batman tem o mesmo efeito.

A interação de Billy com Freeman e os demais membros da família fica de lado por conta da trama: desta vez, apesar do discurso da união da família, a história reverte o final do primeiro filme. Billy carrega a tocha sozinho.
Apesar disso, o longa ainda funciona, quando consegue explorar os poucos momentos da família e por manter, até as cenas de pós-creditos, a coerência. Shazam sabe que não existe problema nenhum em ser infantil, quando é hora de voar.

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