Aquaman e o Reino Perdido e Feliz Natal

Confira a crítica sem spoilers sobre o novo filme de Jason Momoa e o espírito natalino de João Camilo Torres

Já que é época de Natal e até ganhamos pipoca na entrada do cinema, vamos nos preparar para aquele momento em que temos nos reunir com toda família, inclusive aqueles parentes menos (ou nem um pouco) queridos, que, por boa educação, compram presentes para nós (e nós para eles).

Presentes que em geral são roupas de baixo com número errado, carteiras para dinheiro com a foto de Nossa Senhora ou uma caixa de baralhos em miniatura, de papelão, que não duram duas partidas de Truco. E quando você abre o embrulho com cuidado para não rasgar o papel (que você reconhece do ano anterior) e tem exagerar na alegria, pois deu os mesmos presentes para os parentes, e diz, mostrando os dentes e esticando os lábios como se fosse o Coringa, arregalando os olhos como a Vandinha e esganiça a voz para dizer: Que maravilha!!! Um lindo baralho fofo e espetacular!!!

Com todos adjetivos e pontos de exclamação (apenas três, pois não somos o Zack Snyder) para deixar claro que adoramos o presente. Que não adoramos, mas somos fingidores. Mas o que teria o Natal, além da época do lançamento, a ver com o segundo filme do Aquaman?

Se você gostou do primeiro filme, então é o espírito de Natal. Uma aventura veloz e cheia de cores (sim, não encontramos Nemo, mas os cenários continuam tão coloridos quanto uma loja de peixes) que mostra Aquaman, agora pai e rei, lidando com o Manta Negra, que desta vez encontra um tridente perdido, relacionado com o passado mitológico de Atlântida e coloca em risco a família real e o planeta (com uma mensagem óbvia e superficial sobre o aquecimento global). Um barato delicioso.

Se não gostou, deve ser pelos mesmos motivos que apenas molhará o pé na marola provocada pela imagem de Jason Momoa sem camisa. O diretor James Wan continua, assim como nos seus filmes de horror, querendo causar sustos na audiência, sustos que passam, porque são constantes.

Tudo no filme, menos a mensagem ecológica, é intenso; as cores que brilham demais e em excesso, a trilha sonora, as poses retiradas de painéis estáticos dos quadrinhos… Os personagens fazem THUM. E é apenas o som de um passo. E eles vivem dentro de água.  

Quando ouvimos uma música, lemos um poema, qualquer narrativa, existem variações de intensidade que ajudam a provocar emoções nos outros. Imagine se a nona sinfonia fosse apenas Tam Tam Tam! Ou se a Enter Sandman fosse apenas os riffs de guitarra.

Mas, tal como você abrindo presentes, Wan não confia no enredo, na “gravidade” da cena, na capacidade dos atores, e precisa encher de !!! e adjetivos e advérbios. No cinema, os pontos de exclamação são os closes, a câmera lenta, a trilha sonora intensa, a mudança de iluminação da cena… Tudo isso muito intenso em Aquaman e o Reino Perdido.

Sem tempo para respirar, sem variação de frequência, afogamos e nem percebemos como Wan deriva tanto de outros filmes (tem um quê de Senhor dos Anéis e um cena com um Jabba, inclusive com a cantina de Star Wars, aquela da versão restaurada em que Lucas trocou o estéril, mas eficiente mundo cheio de alienígenas por um zoo visualmente poluído) e segue um roteiro cheio de furos e comédia forçada entre os dois irmãos da história.

Isso funciona? Claro, os presentes funcionam também. Mas apenas um pouco. Ano que vem tem mais, reaproveitando o papel de embrulho e colocando passas na farofa. Eu curto. Tem quem não, mas eu também gosto de Pizza Havaiana, com pêssego, figo e abacaxi.

Publicado por João Camilo de Oliveira Torres

Escritor, podcasterEditor do Quixote + Do, autor do roteiro da Graphic Novel “Sci Fi Punk Project”, participou de várias coletâneas do Livro de Graça na Praça, e da coletânea “Ler Novos Autores” da Editora Jaguaratirica, “Beleza e Simplicidade” da Editora Assis, “Cheiro de Minas” e “Laços de Avós” da Páginas e das antologias de poesia “P.S. It’s poetry” e “P.S. It’s still poetry”, lançadas nos Estados Unidos. .

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