Thunderbolts*: para que serve esse asterisco mesmo?

Confira a crítica de João Camilo Torres, sem spoilers, do mais novo filme da Marvel

O asterisco vai sumir no final, quando Nova York for mais uma vez salva pelos… 

Fórmula. Se você olhar com atenção, o MCU cresceu usando uma receita apenas, que, com algumas poucas tentativas de inovação (Eternals, aí está você), se mantém rentável pela fidelidade dos fãs. Por isso, as tentativas de criar algo diferente gera menos bilheteria, mais críticas, memes e trabalho para os bots.

Kevin Feige, a inteligência da franquia, é tudo menos um inovador. Isso fica mais evidente nas séries da Disney, por serem mais numerosas. A ideia é copiar o que dá certo em outros locais, ajustar para diminuir os riscos, e, em uma espécie de autofagia, alimentar os fãs com autorreferências (as piscadelas para os leitores de quadrinhos já deixaram de ser norma, o MCU já construiu sua própria biografia e mitologia para caminhar com seus passinhos e espero, a qualquer momento, que Feige passe a aparecer em cameos). Tem dúvidas? Assista à nova série do Demolidor, recentemente lançada. 

Isso explica um pouco o sucesso (que vai ser) e os problemas básicos de Thunderbolts. Pela primeira vez, foram capazes de reutilizar a fórmula do primeiro Vingadores para unir um supergrupo (que vai salvar Nova York, é claro).  É o filme que melhor consegue se estruturar utilizando as séries da Disney. A maioria dos personagens já havia sido apresentada em produções anteriores, especialmente a principal, Yelena, irmã da Viúva-Negra.

Para dialogar com a base de fãs, os trailers acenaram com o humor. Era como se dissesse “Ainda temos um Hulk” e bateu-se na tecla de que os personagens são fracassados, anti-heróis e essa é a piada central do filme. Humor faz parte da fórmula, essa piada é repetida constantemente e o humor é o que há de pior no filme. 

Não por não combinar com personagens “grits”. De fato, são personagens com esse perfil “Image Comics”, dos anos 90, (traduzindo para audiovisual, zacksnyderianos), pois, o filme em si não é tão violento, nem os personagens são completamente amorais. Quer grit, outra vez mais: assistam à série do Demolidor. 

Mas, enquanto o filme avança (não espere muita coerência de eventos, nenhum diálogo brilhante: MCU aposta sem riscos), o humor parece se tornar um intruso para a verdadeira história, aquela que os trailers não contaram, e olha que os trailers do MCU são notórios por contarem demais detalhes dos filmes. 

Não, desta vez não faria sentido esconder a introdução do Sentinela (Sentry/Void) como antagonista do longa. A história é tão simples e linear, que não admite surpresas ou reviravoltas. A verdadeira história não é de fracassos, mas de sucesso. O problema é que esse sucesso é o de ser uma assassina eficiente. Yelena, ao contrário da nunca desenvolvida Nathasha, não encontrou um ideal romantizado de ser uma heroína que salvou o mundo para compensar o passado. É um filme sobre saúde mental. 

É isso que dá o tom sombrio ao filme, apenas um pouquinho de humanidade. Além da notória cara de choro de Florence Pugh, uma atriz eficiente o suficiente para não permitir que a superficialidade desta sessão de psicanálise se transforme em uma comédia acidental. 

Quanto ao asterisco, não serve para nada mesmo. É parte do humor promocional e nem tem tanta graça, sem estar enfrentando o exército romano. 

Publicado por João Camilo de Oliveira Torres

Escritor, podcasterEditor do Quixote + Do, autor do roteiro da Graphic Novel “Sci Fi Punk Project”, participou de várias coletâneas do Livro de Graça na Praça, e da coletânea “Ler Novos Autores” da Editora Jaguaratirica, “Beleza e Simplicidade” da Editora Assis, “Cheiro de Minas” e “Laços de Avós” da Páginas e das antologias de poesia “P.S. It’s poetry” e “P.S. It’s still poetry”, lançadas nos Estados Unidos. .

Deixe um comentário