Confira a crítica sem spoilers do novo filme que levou nosso hobby para as telas. E uma viagem pela memória do João Camilo…
Talvez, o normal seria começar falando sobre Roleplaying Games (RPG), especialmente Dungeons & Dragons, e o impacto literário gerado nos anos 70, quando o jogo foi criado. Pois se trata, basicamente, de uma manifestação da oralidade na idade contemporânea, do jeito que (o medievalista, crítico literário, historiador da literatura e linguista suíço) Paul Zumthor adoraria: um grupo de pessoas se reúne para ouvir um deles contar uma história.
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Esse impacto é menos pela presença de elementos lúdicos, o jogar, visto que a tradição, especialmente a oral, já incorporava esses elementos e, sim, pela interatividade entre a audiência e o performer (o tal do mestre). Não se trata simplesmente da tal da quebra da quarta parede levado a cabo pelo teatro do (dramaturgo, poeta e romancista alemão) Bertolt Brecht. E sim o grau desta interatividade, já que a audiência, neste caso, é também responsável pela narrativa para ser, efetivamente, audiência e cúmplice.
![Confira a crítica sem spoilers do filme Dungeons & Dragons: honra entre rebeldes. E uma viagem pela memória do João Camilo](https://barprincesa.com.br/wp-content/uploads/2023/04/dungeons-and-dragons-honra-entre-rebeldes-poster-circulo.jpg?w=1024)
Eu seria levado a mencionar que essas narrativas, pela espontaneidade e, também falta de construção dramática dos participantes, é ancorada em ação, é episódica e pouco sofisticada. E faz uso principalmente de personagens simplificados e estereotipados, deixando claro as fontes onde buscam os elementos para a criação (por exemplo, Tolkien e Robert E. Howard, mas não sendo limitados a esses cenários de fantasia, podendo fazer uso de Lovecraft, Star Wars ou Pernalonga). Essas características permanecem até quando novelas literárias são criadas explorando os cenários criados pelo RPG.
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Faria sentido, pois os personagens e a narrativa do filme Dungeons & Dragons: Honra entre Rebeldes segue esses padrões. Mas, prefiro destacar que a mais relevante inspiração para o filme é o humor inglês. Desde Monty Python (veja as animações dos créditos do filme) até, e principalmente, Terry Pratchet e o seu Discworld. O filme é uma comédia de fantasia, com a mesma complexidade de um episódio do desenho Caverna do Dragão, produzido nos 80s e que foi como, até quem mesmo não jogava RPG, jogava.
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E como brasileiro que viveu naquela época, tenho a melhor descrição para este longa-metragem: é um filme Sessão da Tarde. A falta de complexidade, sem as pretensões gameofthroneanas, ajuda-o a não cometer erros notáveis. Como se trata de mais um produto do fandom geek e fandoms geeks estão sendo explorados até o bago por Hollywood, o filme traz referências o suficiente para agradar os rpgistas, que, introduzidas de maneira bem orgânica (ou com a pitada de farsa, no caso do Paladino), não causam estranheza para quem não tem nada a ver com rolamento de D20s. Ou seja, Sessão da Tarde com pipoca.
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Os anos 80, período em que o jogo se desenvolveu, nos deu alguns filmes que são referência para qualquer rpgista e são fantasias melhores, como o primeiro Conan, O Feitiço de Áquila, e a comédia A Princesa Prometida. Isso não quer dizer que este filme é um fracasso. Sua humildade em não tentar impor regras e as restrições de cronologias e árvores familiares, permite o que esses exercícios de imaginação têm de melhor: deixam em aberto as possibilidades para que todos possam contar e ouvir uma história. Não engasga, mesmo que, no final das contas, pipoca seja apenas milho e tenha peruá.
![Confira a crítica sem spoilers do filme Dungeons & Dragons: honra entre rebeldes. E uma viagem pela memória do João Camilo](https://barprincesa.com.br/wp-content/uploads/2023/04/dungeons-and-dragons-honra-entre-rebeldes-criaturas.jpg?w=1024)
Nota sobre a sigla RPG: quando a Jabbework funcionava nas Lojas Bakana, eu estava conversando com um vendedor na área de livros didáticos e um pai e uma filha se aproximaram. Ele perguntou o que era RPG e antes que eu respondesse a filha soltou: Reunião de Palhaços Gays. Eram os anos 90. A busca no Altavista resultaria em encontrar a sigla como o nome de uma das armas do jogo Duke Nukem (Rocket Propelled Grenade) ou relacionada com fisioterapia (Reeducação Postural Global). A Jabbework? Um dos espaços para RPG que tivemos nos Anos 90 em Belo Horizonte. Também tinha GURPS.
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